Capítulo 63 - Na grande transição

Do livro "RELIGIãO DOS ESPíRITOS", ditado pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Capítulo 63 - Na grande transição
Reunião pública de 11/9/1959
Questão nº 155


        Por muitas sejam as tuas dores, repara o mundo em que a Divina Bondade te situa a existência e deixa que a vida te renove a esperança.
        Tudo é serviço por toda parte.
        Apesar dos profetas do pessimismo, bulcões ameaçadores transformam-se, na hora da tempestade,
em lagos volantes, acalentando a gleba sedenta; fontes de longo curso atravessam as garras pontiagudas da rocha, convertendo-se em padrão de pureza; pântanos drenados deitam messes de reconforto e árvores podadas multiplicam a produção.
        Todas as energias que sustentam a Terra esquecem todo o mal, buscando todo o bem.
        Dir-se-ia que o próprio Senhor criou a noite como exaustor das inquietações do dia, para que o homem, cada manhã, consiga reaprender e recomeçar.
        Colocado, assim, no trono da razão, ante os elementos inferiores que te servem, humildes, olvida a sombra para que a luz te favoreça.
        Ouve a própria consciência, seja qual for a idéia religiosa a que te filias, e perceberás que nasceste para realizar o melhor.
        E quem realiza o melhor desconhece o que exprima ofensa ou descaridade, porque a ofensa é espinho da ignorância e a descaridade é chaga da delinqüência, que somente a educação e o remédio conseguirão liquidar.
        Tudo aquilo que desfrutas é depósito santo.
        Dotes de espírito e afeições preciosas, autoridade e influência, títulos e haveres são talentos emprestados que devolverás na hora prevista.
        Desse modo, ainda mesmo que a maioria te escarneça o propósito de bem fazer, perdoa sempre e fase o bem que possas.
        O tempo que te traz hoje a oportunidade presente será amanhã o portador do minuto necessário à grande transição que a morte impõe sempre a justos e injustos... E, na grande transição, o bem que houveres feito, muita vez superando sacrifícios e trevas, ser-te-á o orvalho fecundante depois da nuvem, a água pura acrisolada na pedra, o ramo virente a destacar-se do lodo e o fruto opimo a pender do tronco dilacerado.
        Segue, pois, ao clarão do bem, para que o crepúsculo das forças físicas te descerre a senda estrelada.
        Não digas que tens o lar à feição de penitenciária, que te falta a compreensão alheia, que não dispões de recursos para ajudar ou que sofres inibições invencíveis.
        Recorda que, certo dia, um anjo transfigurado em homem subiu agressivo monte, sentenciado à morte sem culpa, mas, em razão de haver aceitado a cruz, por amor de todos, embora desolado e sozinho, clareou para sempre a rota do mundo inteiro.